Seca no DF agrava transmissão de coronavírus. Entenda por quê
A baixa umidade chegou – no fim de semana deve atingir 25% -, o que, associado a baixas temperaturas, resulta em infecções das vias aéreas
ATUALIZADO
Tal situação pode se tornar um vetor para intensificação da transmissão do novo coronavírus. Três especialistas ouvidos pelo Metrópoles argumentam que, como a Covid-19 vem de uma família de vírus que causa infecções respiratórias, a seca pode influenciar na transmissão.
“Estamos em um período do ano caracterizado por temperaturas mais baixas que, associadas à redução da umidade, são razões da maior prevalência de infecções de via aérea superiores e inferiores”, aponta a doutora Larissa Camargo, otorrinolaringologista do Hospital Santa Lúcia Sul.
Segundo ela, o período de seca favorece a disseminação de vírus, bactérias e fungos, em virtude da redução de proteção da via aérea superior – os cílios de proteção – e da maior concentração de germes pela redução da umidade. “Logo, os germes, inclusive o coronavírus, apresentam maior tendência à disseminação, apresentando aumento do número de casos”, revela.
“Isso reforça a necessidade de ampliação dos cuidados de higiene, uso de máscaras e distanciamento social, bem como higiene ambiental, etiqueta individual e evitar aglomerações”, ressalta a especialista.
O doutor Marcos Pontes, clínico geral e diretor Técnico do Hospital de Campanha de Águas Lindas de Goiás, enfatiza a importância de manter os cuidados durante este período.
Já o doutor Luciano Lourenço, clínico geral e coordenador da Emergência do Hospital Santa Lúcia Sul, fortalece a fala dos companheiros. Ele assegura que o clima frio e seco facilita a contaminação, não só pelas características do vírus, que em temperaturas frias e secas tem maior capacidade de se manter vivo, mas também pelos quadros gripais.
“Quando o clima está frio e seco, os padrões alérgicos aumentam e contaminações por outros vírus também. As pessoas apresentam mais espirros, tosses, inflamações de mucosas que podem aumentar a chance de proliferação do coronavírus”, destaca.
Estudos
Diversos estudos estão sendo feitos para relacionar clima e o coronavírus. E também a fim de saber se a doença pode se tonar sazonal, ou seja, a epidemia poderia se repetir em certas épocas do ano. Uma das pesquisas mais recentes vem da Universidade de Sydney, na Austrália, em parceria com a Universidade de Xangai, na China.
A principal descoberta foi que, em períodos de menor umidade (como no inverno brasiliense, por exemplo), há maior probabilidade de aumento nos diagnósticos positivos de Covid-19. Segundo os autores, quando a umidade está baixa, o ar fica mais seco e os aerossóis se tornam menores.
Por isso, quando a pessoa contaminada espirra ou tosse, as partículas em aerossol ficam suspensas no ar por mais tempo, aumentando a chance de outras pessoas serem expostas ao vírus. Em tempos mais úmidos, os aerossóis ficam mais pesados e se depositam em superfícies mais rapidamente.
“A doença é, possivelmente, sazonal e aparecerá em períodos de menor umidade. Teremos de pensar que, se é inverno, pode ser época de coronavírus”, diz o epidemiologista Michael Ward, responsável pela pesquisa, que deve seguir nos próximos meses para verificar como o vírus se comporta durante outras temporadas climáticas. O estudo australiano é importante, principalmente para os brasileiros, uma vez que o clima dos dois países é semelhante.
Recomendações
As principais recomendações da Defesa Civil durante a época de seca são evitar a prática de atividades ao ar livre no período das 10h às 17h, aumentar a ingestão de líquidos, não tomar banhos prolongados com água quente e muito sabonete, descartar o uso excessivo de ar-condicionado e usar protetor solar. Crianças e idosos precisam de atenção especial, pois são os mais afetados.
A isso se junta a necessidade de se manter o isolamento social e a utilização de máscara. Esse é mais um motivo para as pessoas só saírem de casa em casos necessários, uma vez que a seca combinada com o uso do equipamento facial pode dificultar bastante a respiração.
Fique atento!
Entre 21% e 30% (estado de atenção)
- Evitar exercícios físicos ao ar livre entre 11h e 15h;
- Umidificar o ambiente por meio de vaporizadores, toalhas molhadas e recipientes com água;
- Consumir água à vontade.
Entre 12% e 20% (estado de alerta)
- Observar as recomendações do estado de atenção;
- Suprimir exercícios físicos e trabalhos ao ar livre entre 10h e 17h;
- Evitar aglomerações em ambientes fechados;
- Usar soro fisiológico nos olhos e nas narinas.
Abaixo de 12% (estado de emergência)
- Observar as recomendações para os estados de atenção e de alerta;
- Interromper qualquer atividade ao ar livre entre 10h e 16h, como aulas de educação física, coleta de lixo, entrega de correspondência, etc;
- Durante as tardes, manter os ambientes internos úmidos, principalmente quartos de crianças, hospitais, etc.
Adaptações: Alexandre Torres
Guará News