Blocos, organizadores e escolas de samba do DF criticam criação de setor carnavalesco na Esplanada
Em nota, grupo alega falta de transparência e perigo de esvaziamento das atrações locais. GDF anunciou palco com artistas nacionais como Psirico e Elba Ramalho.
Por Luiza Garonce, G1 DF
Blocos de rua, plataformas carnavalescas e as escolas de samba do Distrito Federal emitiram uma nota de repúdio à criação do palco do GDF na Esplanada dos Ministérios. O espaço vai receber, durante os cinco dias de folia, atrações nacionais como Psirico, Nação Zumbi, Elba Ramalho e Glória Groove.
Viabilizado por meio de uma parceria público-privada com a Secretaria de Cultura e Economia Criativa (Secec), o palco é a aposta de um modelo que o secretário Bartolomeu Rodrigues pretende tornar a “marca registrada de Brasília”.
Segundo a pasta, quatro empresas manifestaram interesse e vão arcar com os cachês dos artistas. “O Estado vai entrar, basicamente, com infra-estrutura”, disse Bartô em coletiva de imprensa nesta quinta-feira (30).
O valor injetado no projeto e o nome dos patrocinadores não haviam sido informados até a última atualização desta reportagem.
Mulheres fantasiadas brincam de pular corda durante o carnaval de 2019 no Setor Comercial Sul, em Brasília — Foto: Secretaria de Cultura do DF/Divulgação
Carnaval de Brasília?
Os realizadores da folia de rua discordam que a nova plataforma represente o carnaval de Brasília. “Carnaval é tradição, é territorialidade, é rito, é direito. Deve ser realizado com diálogo e transparência – e isto não é favor. O carnaval de Brasília é das cidades e artistas do DF”, diz a nota de repúdio.
Entre as principais preocupações apontadas pelo grupo estão:
- O potencial esvaziamento das demais plataformas carnavalescas
- A perda de protagonismo dos blocos e dos artistas locais
- A desvalorização cultural das manifestações espontâneas da cidade
- A falta de diálogo e transparência com a comunidade carnavalesca
Bloco Sereias Tropicanas no carnaval de 2019 no Setor Comercial Sul, em Brasília — Foto: Sereias Tropicanas/Divulgação
Segundo os realizadores, a programação na Esplanada é “abusiva e unilateral”. Eles afirmam que os artistas convidados poderiam ter sido “agregados em qualquer plataforma e bloco do DF, desonerando o suado recurso público da cultura e, assim, promovendo a cadeia da economia criativa do carnaval”.
O grupo também alega não ter sido comunicado sobre a intenção da Secretaria de Cultura de criar esta plataforma própria, com atrações nacionais. “É dever do GDF, pela lei 38.019/2017, anunciar qual é a patrocinadora e quais são os valores e fontes dos recursos”, dizem no manifesto.
As escolas de samba, que não se classificaram no edital do FAC e, mais uma vez, não devem desfilar no carnaval, disseram ao G1 que o projeto da Esplanada “tinha que ter sido feito com os blocos e as escolas do DF, porque movimentaria a economia criativa da cidade”.
“Esse palco é fruto de parceria com a iniciativa privada, mas vem da Lei de Incentivo à Cultura (LIC), de impostos que seriam pagos ao GDF”, disse o presidente da União das Escolas de Samba, Geomá Leite (conhecido como Pará).
“Convidaram gente de fora que não tem nada ver com o nosso carnaval, e ainda sem nos comunicar sem debater.”
Plataformas Norte e Sul
Carnaval de rua no Setor Comercial Sul, em Brasília — Foto: Adriano Maneo/Divulgação
Para o Instituto No Setor, que gerencia a plataforma do Setor Comercial Sul, o palco na Esplanada representa uma “ameaça ao carnaval de rua espontâneo”, porque “concentra todo o investimento em atrações que não são hegemonicamente da cidade”.
Entre os 20 blocos e artistas confirmados pela Secretaria de Cultura, 10 são do Distrito Federal. “Se é para ser um carnaval de Brasília, um presente para a cidade, isso tinha que ter sido pensado com quem está o ano todo trabalhando para entregar um carnaval à cidade”, disse o organizador Ian Viana.
O “Setor Carnavalesco Sul” reuniu 35 blocos no carnaval de 2019 e, desta vez, será palco para 50 deles – somente durante os cinco dias oficiais de folia. A programação de pré-carnaval no local começou no dia 11 de janeiro e segue até 14 de fevereiro com 22 atrações.
O bloco Samba do Peleja na 201 Norte, em Brasília — Foto: Ubirajara Machado/Divulgação
Na Asa Norte, a Praça dos Prazeres tem 15 anos de experiência com carnavais e, neste ano, vai abrigar 25 blocos. Segundo a organizadora da plataforma, Ju Pagul, a Secretaria de Cultura “falta com transparência e diálogo” na criação e divulgação das ações.
“Quando este palco com atrações nacionais é anunciado em pleno calendário de carnaval, envolve questões políticas e sociais”, disse ao G1. “Os patrocinadores também tinham que ter sido anunciados com 90 dias de antecedência, segundo o decreto de 2017.”
“Não se sabe quanto este palco vai custar, nem quem vai patrocinar.”
O bloco Samba do Peleja na 201 Norte, em Brasília — Foto: Bloco Samba do Peleja/Divulgação
Em coletiva de imprensa nesta quinta (30), a pasta informou que os blocos teriam até as 2h para encerrar as atividades nas duas plataformas. No entanto, autorização emitida pela Secretaria de Segurança Pública definiu 23h como horário limite (veja abaixo).
Alvará emitido pela Secretaria de Segurança Pública do DF para a realização do carnaval de rua na Praça dos Prazeres em 2020 — Foto: Reprodução
Adaptações: Alexandre Torres
Guará News