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Suspeitos cobravam 10% de propina para fraudar contas da CEB

Suspeitos cobravam 10% de propina para fraudar contas da CEB

Segundo investigadores, após o pagamento, era feita a transferência de titularidade para terceiros e o devedor continuava recebendo energia

PCDF/DivulgaçãoPCDF/DIVULGAÇÃO

esquema que causou prejuízo milionário à Companhia Energética de Brasília (CEB) envolvia pagamento de propina. Segundo os investigadores da Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF), que deflagraram a Operação Apate nesta quinta-feira (31/10/2019), com o apoio do Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT), o suborno girava em torno de 10% do valor total das dívidas com a empresa, que somam R$ 650 milhões.

Segundo as investigações, apenas com a transferência da titularidade do cliente inadimplente sem o necessário pagamento do débito, o grupo causou prejuízo de aproximadamente R$ 20 milhões à CEB, em um período de quatro meses. Mas, segundo o coordenador da Coordenação Especial de Combate à Corrupção e ao Crime Organizado (Cecor), Leonardo de Castro, os desvios podem somar centenas de milhões de reais.

O delegado informou que as dívidas em que ocorreram a transferência de titularidade eram altíssimas. “Algumas empresas e consumidores devem R$ 59 mil, R$ 190 mil, R$ 250 mil. Eles cobravam 10% destes valores. As pessoas continuavam recebendo o serviço pelo novo contrato e a empresa ficava com a dívida. A nova conta ficava em nome de um laranja e o fornecimento de energia não era interrompido”, assinalou.

De acordo com o diretor da Divisão de Combate ao Crime Organizado (Draco), Adriano Valente, um dos investigados, preso durante a operação, afirmou que a fraude é praticada na empresa há pelo menos uma década. Os investigadores saíram às ruas para cumprir 19 mandados de prisão temporária e 24 de busca e apreensão. Entre os presos, estão oito servidores da CEB, um ex- funcionário da empresa, cinco terceirizados e nove eletricistas autônomos. Na casa de um dos detidos, a polícia encontrou R$ 30 mil escondidos atrás de uma geladeira.

No total, os policiais encontraram R$ 86 mil em espécie, cheques e notas promissórias nas casas dos investigados. Além das quantias, foram apreendidos milhares de lacres de medidor da CEB, 113 medidores de energia e uma Toyota Hilux. Além de uniformes da CEB na residência de suspeitos que não possuem vínculo empregatício com a empresa.

Um ex-funcionário da Caesb suspeito de atuar de modo similar também foi detido. “Na Caesb, as investigações estão bem incipientes ainda. Ele também seria responsável pela troca de titularidades em hidrômetros, na mesma sistemática, fazendo com que o serviço não fosse cortado por dívidas de grande monte e também por cadastramento de hidrômetros em ligações irregulares. Vamos investigar”, disse o delegado Jean Mendes.

As apurações tiveram início há seis meses, após a análise do material coletado no aparelho celular de um dos presos na Operação Horus, na qual foram presos grileiros e policiais militares envolvidos no parcelamento irregular de terras públicas no Condomínio Sol Nascente, em Ceilândia.

Entre os locais onde foram cumpridos mandados de busca e apreensão, estão a sede da companhia energética e endereços de Águas Lindas e Novo Gama, ambos municípios goianos do Entorno do Distrito Federal.

De acordo com a PCDF, o grupo composto por pelo menos seis núcleos criminosos faturava também prestando serviços particulares a um valor mais baixo, apesar de formalmente executados pela CEB, e adulterando medidores de energia elétrica para cobrança de valores menores e fornecendo luz a áreas com obras embargadas, graças ao pagamento de propina.

Os núcleos incluíam eletricistas, que arregimentavam os clientes. Eles geralmente tinham contato de um funcionário da linha operacional, que trabalha com instalação de medidores. O servidor, por sua vez, contatava as pessoas que mexem com o cadastro de clientes. Os integrantes de diferentes nichos da companhia se comunicavam entre si.

Promotor do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado do Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (Gaeco), Marcel Bernardes Marques, a investigação foi originada há seis meses, após da deflagração da Operação Horus, de combate à grilagem no Sol Nascente, em Ceilândia. “Através das conversas que pegamos em um celular de um grileiro de terras, extraímos elementos contundentes para desvendar uma organização criminosa que está instalada a vários anos na CEB”, ressaltou.

Os suspeitos podem responder por crimes como corrupção passiva, falsidade ideológica, lavagem de dinheiro e organização criminosa.

O que dizem as empresas
Em crise financeira e com rombo bilionário nas contas, a CEB e a Caesb estão na lista de privatização do GDF. Em nota, a Companhia Energética de Brasília informou que está apoiando a operação para que sejam coibidas fraudes e outras práticas contra os interesses da companhia. “É público que há consumidores que têm se utilizado de ligações clandestinas para promover furto de energia, como também houve recentemente uma operação policial para coibir a fraude em medidor praticada por uma empresa”, destacou a estatal.

Além disso, informou que a administração da CEB presta todo o apoio necessário às autoridades policiais na investigação. “A medida vai ao encontro da firme atuação da atual gestão na redução da inadimplência e no combate às perdas, seja por furto ou por fraude, que prejudicam tanto a empresa quanto o consumidor honesto e bom pagador”, assinalou.

A Companhia de Saneamento Ambiental do DF informou, também por meio de nota, que, até o momento, não foi notificada sobre a operação e que não houve diligências nas dependências da empresa. A empresa destacou ainda que está à disposição para colaborar com as investigações.

Adaptações: Alexandre Torres

Guará News