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Mostra itinerante da Bienal de São Paulo chega a Brasília

Mostra itinerante da Bienal de São Paulo chega a Brasília

Obras de 13 artistas compõem o material em exibição na capital até 20 de outubro


NM Nahima Maciel
As duas obras (E e D) são da artista Vânia Mignone e integram a mostra brasiliense, em cartaz no Museu Nacional(foto: Fundação Bienal de São Paulo/Divulgação)
Inaugurada em setembro de 2018, a 33ª Bienal Internacional de Arte de São Paulo trazia como proposta pensar as relações criadas a partir da interação entre artistas e curadores do mundo inteiro. Com o título de Afinidades afetivas, o curador Gabriel Pérez—Barreiro tomou emprestado o clássico de Goethe, Afinidades eletivas, como inspiração para reunir os mais de 100 artistas que compunham a mostra. Agora, é a vez de 13 deles desembarcarem em Brasília para uma itinerância que ocupa o salão principal do Museu Nacional da República.
Com curadoria de Jacopo Crivelli, a mostra traz 59 obras que, de certa forma, reproduzem a ideia original da Bienal, mas também criam novas leituras e significados. “As itinerâncias foram concebidas como uma nova camada que se sobrepõe às que compunham o projeto original”, explica o curador. “Nesse sentido, tanto a exposição em Brasília quanto as outras itinerâncias foram pensadas como desdobramentos ou consequências do projeto de Gabriel Pérez-Barreiro, que tive a oportunidade de acompanhar de perto desde o começo.”
Com artistas como Claudia Fontes, Benjamin Palencia, Feliciano Centurión e Denise Milan, a mostra foi concebida sob os mesmos moldes que guiaram Pérez-Barreiro na curadoria da Bienal, mas não são, como avisa Crivelli, uma reprodução do que foi feito em São Paulo. Além das obras, faz parte da mostra um ensaio visual do fotógrafo Mauro Restiffe, realizado durante a montagem da Bienal.
Recortes da Bienal vão passar também pelo Espírito Santo, Rio Grande do Sul, Minas Gerais e Colômbia. Para Jacopo, a iniciativa é também uma forma de potencializar o esforço gigantesco empreendido para montar a exposição em São Paulo. “(Itinerar) me parece um esforço sumamente importante, considerando o volume de trabalho que a organização de uma Bienal requer, e a escala continental do Brasil, que faz com que seja muito difícil para todos os que se interessam por arte e cultura viajar até São Paulo. Para a Bienal, é uma maneira de atingir novos públicos e compartilhar o trabalho que é feito aqui”, diz.
Charles Cosac, diretor do Museu Nacional da República, conta que viu a Bienal em São Paulo e ficou com a sensação de que o conjunto apresentado em Brasília trouxe novas questões não percebidas na montagem do Parque Ibirapuera. “É interessante, aqui em Brasília parece que as obras têm uma concepção diferente do que tinham no Parque, elas evocam outras questões na cabeça do espectador”, diz. “Gostei de alguns artistas aos quais não tinha dado tanta atenção em São Paulo.”
Ele cita artistas como Benjamin Palencia, que pinta ossos, faces e pedras, e Claudia Fontes, que apresenta em livro uma evocação de fósseis, ou Denise Milan, com sua instalação de cristais. Cosac aponta, ainda, o paraguaio Feliciano Centurión, que identifica como um Leonilson latino-americano. “Ele trabalha com bordado, morreu de AIDS também, e eles eram contemporâneos, mas não se conheciam. Os trabalhos dialogam demais, e ele usa coisas que Leonilson não usou como toalha. Foi um resgate do Gabriel e fez muito sucesso”, explica Cosac.
33ª Bienal de São Paulo – Itinerância Brasília
Visitação até 20 de outubro, de terça a domingo, da 9h às 18h30, no Museu Nacional da República (Setor Cultural Sul Lote 02 — Esplanada dos Ministérios)
TRÊS PERGUNTAS / JACOPO CRIVELLI
Gabriel Pérez-Barreiro havia feito, para a Bienal, uma divisão em sete ilhas temáticas-curatoriais. Como você transportou essa ideia para itinerância?
A exposição realizada no Pavilhão da Bienal era constituída por um conjunto de níveis que se entrelaçavam: um pano de fundo (o conceito geral da exposição); as diferentes mostras organizadas por sete artistas-curadores; as participações individuais de artistas convidados diretamente pelo curador geral; e, ainda, as relações que se criavam entre todas essas instâncias. A esses níveis se sobrepõe aqui o da leitura transversal desses distintos eixos da 33ª Bienal, que é uma leitura minha, então uma curadoria que se sobrepõe ao conjunto inicial de curadorias.
Como o tema da Bienal, Afinidades afetivas aparece no recorte em exposição no Museu Nacional?
O que aparece com mais clareza é o tipo de processo que Goethe descreve em As afinidades eletivas, em que novas relações se estabelecem entre elementos distintos, criando vínculos. É isso que as itinerâncias sugerem, novas relações e novas afinidades, que no projeto inicial estavam apenas em potência, ou latentes.
O recorte reproduz a 33ª Bienal? 
O objetivo não é reproduzir tanto a exposição que se viu em São Paulo quanto o modus operandi da curadoria. Nesse sentido, a meu ver, ela é mais fiel do que se tentássemos reproduzir “pedaços” dela.
Adaptações:
Alexandre Torres
Guará News