Elas gostam e fabricam, mães cervejeiras no DF, são mais de 15 fábricas na capital federal e elas fazem acontecer
Guará DF, 12 de maio de 2024
Redação Guará News
Por Alexandre Nunes Torres
Brasília tem 17 fábricas de cerveja registradas, segundo Ministério da Agricultura. No Dia das Mães, profissionais destacam o que levam da maternidade para o trabalho como cervejeiras.
Mães, cervejeiras e empreendedoras: no Dia das Mães, comemorado neste domingo (10), as histórias de duas mulheres que entraram em um mercado majoritariamente masculino e que hoje são exemplos no empreendedorismo feminino. Com diferentes trajetórias, elas provam que “cerveja também é coisa de mulher” e contam o que levam da experiência como mães para o dia a dia como cervejeiras.
No Distrito Federal há 17 fábricas de cerveja registradas, de acordo com o Anuário da Cerveja, produzido pelo Ministério da Agricultura. No Brasil, são 1.847 cervejarias. No entanto, não há dados de quantas são gerenciadas por mulheres.🍺
‘Foi a cerveja que me encontrou’
Marianna Rabelo sempre gostou de estudar e pesquisar cervejas. — Foto: Reprodução/Arquivo pessoal
A mineira de Divinópolis, Marianna Rabelo, de 34 anos, conta que desde a faculdade sempre foi apaixonada pelo estudo da cerveja. Ela, que se formou em Engenharia de Alimentos na Universidade Federal de Lavras (UFLA), participou do programa do governo federal Ciência sem Fronteiras em 2104 e se capacitou em tecnologia da fabricação de cervejas na Universidade Corvinus de Budapeste, na Hungria.
“Foi a cerveja que me encontrou, não fui eu que a encontrei”, diz Marianna.
Quando voltou ao Brasil, em 2015, Marianna começou a produzir cervejas artesanais em Minas Gerais com o então namorado. Mas a sociedade e o namoro não deram certo.
“Entra nessa história o machismo e a mulher no mercado cervejeiro. Meu namorado falava que ele tinha o dom para ser o dono do negócio, que ele vinha de família de empresários, que a empresa tinha que permanecer no patrimônio da família dele. Me ofereceram o emprego de responsável técnica e virei funcionária do meu sonho”, lembra Marianna.
Ao mesmo tempo em que trabalhava na empresa, Marianna foi convidada para dar cursos de capacitação pelo Sebrae na área do mercado cervejeiro. Primeiro, em alguns municípios, depois em todo o estado de Minas Gerais e, posteriormente, no Brasil inteiro.
“A medida que eu fui crescendo, […] esse meu ex-namorado falou que a gente tinha que casar, que eu tinha que parar de trabalhar, que cervejaria era um ramo masculino. Ele perguntou como as pessoas me veriam com a roupa da fábrica de cerveja na rua”, diz a engenheira de alimentos.
Marianna decidiu não se casar. Em 2019, se mudou para o Distrito Federal onde o mercado cervejeiro estava em expansão. Em Brasília ela conheceu o mestre cervejeiro Eduardo Neves, com quem trabalhou e também por quem se apaixonou.
“A parceria deu tão certo que a gente se casou”, conta Marianna 🍻.
Na empresa Embuarama, que incluía projetos de consultoria para cervejeiros e a produção de cerveja, eles se tornaram sócios. Em 2020, durante o primeiro ano da pandemia de Covid-19, Marianna Rabelo criou uma plataforma online para cursos na área de produção de cerveja e planejamento para a criação de cervejarias que atualmente têm mais de 600 alunos.
A empresa também desenvolveu uma cervejaria em realidade virtual, projetos de mentoria e atendimento para clientes em diferentes níveis. A consultoria presencial para projetos de maior complexidade atende atualmente 45 fábricas em 14 estados brasileiros.
Para a apaixonada por cervejas do tipo juice ipa, que têm aspecto de suco, a trajetória dela não reflete a realidade de outras mulheres no mercado cervejeiro.
“Eu sou uma mulher dentro de um mercado masculino. Temos diferentes barreiras para enfrentar no mercado da cerveja, para além de ser apenas mulher. Temos a mulher, a cor da mulher, a formação da mulher. Temos muitos preconceitos para vencer ainda”, aponta.
A maternidade para Marianna
Marianna Rabelo trabalha, na maior parte do tempo, em casa e consegue ficar com Catarina. — Foto: Reprodução/Arquivo pessoal
Marianna – que confessa nunca ter sonhado em ser mãe – engravidou em 2023. A consultora, que se reconhece como workaholic, conta que trabalhou até o último dia, e que quando entrou em trabalho de parto ainda fez uma reunião de emergência com a equipe.
Em 15 de fevereiro de 2024, Catarina nasceu. Dois meses depois, a bebê viajou com os pais durante uma consultoria presencial feita pela mãe.
Marianna Rabelo e o marido com a filha Catarina, com dois meses — Foto: Reprodução/Arquivo pessoal
Marianna diz que consegue conciliar trabalho e maternidade, mas que são dois extremos: trabalhar no mundo das bebidas traz uma experiência sensorial e um estilo de vida muito vinculado aos eventos, já ser mãe traz o oposto, que são os limites.
Um brinde a elas: Mães que atuam no mercado cervejeiro do DF explicam que cerveja também ‘é coisa de mulher’
Brasília tem 17 fábricas de cerveja registradas, segundo Ministério da Agricultura. No Dia das Mães, profissionais destacam o que levam da maternidade para o trabalho como cervejeiras.
No Distrito Federal há 17 fábricas de cerveja registradas, de acordo com o Anuário da Cerveja, produzido pelo Ministério da Agricultura. No Brasil, são 1.847 cervejarias. No entanto, não há dados de quantas são gerenciadas por mulheres.🍺
‘Foi a cerveja que me encontrou’
Marianna Rabelo sempre gostou de estudar e pesquisar cervejas. — Foto: Reprodução/Arquivo pessoal
A mineira de Divinópolis, Marianna Rabelo, de 34 anos, conta que desde a faculdade sempre foi apaixonada pelo estudo da cerveja. Ela, que se formou em Engenharia de Alimentos na Universidade Federal de Lavras (UFLA), participou do programa do governo federal Ciência sem Fronteiras em 2104 e se capacitou em tecnologia da fabricação de cervejas na Universidade Corvinus de Budapeste, na Hungria.
“Foi a cerveja que me encontrou, não fui eu que a encontrei”, diz Marianna.
Quando voltou ao Brasil, em 2015, Marianna começou a produzir cervejas artesanais em Minas Gerais com o então namorado. Mas a sociedade e o namoro não deram certo.
Ao mesmo tempo em que trabalhava na empresa, Marianna foi convidada para dar cursos de capacitação pelo Sebrae na área do mercado cervejeiro. Primeiro, em alguns municípios, depois em todo o estado de Minas Gerais e, posteriormente, no Brasil inteiro.
“A medida que eu fui crescendo, […] esse meu ex-namorado falou que a gente tinha que casar, que eu tinha que parar de trabalhar, que cervejaria era um ramo masculino. Ele perguntou como as pessoas me veriam com a roupa da fábrica de cerveja na rua”, diz a engenheira de alimentos.
Marianna decidiu não se casar. Em 2019, se mudou para o Distrito Federal onde o mercado cervejeiro estava em expansão. Em Brasília ela conheceu o mestre cervejeiro Eduardo Neves, com quem trabalhou e também por quem se apaixonou.
“A parceria deu tão certo que a gente se casou”, conta Marianna 🍻.
Na empresa Embuarama, que incluía projetos de consultoria para cervejeiros e a produção de cerveja, eles se tornaram sócios. Em 2020, durante o primeiro ano da pandemia de Covid-19, Marianna Rabelo criou uma plataforma online para cursos na área de produção de cerveja e planejamento para a criação de cervejarias que atualmente têm mais de 600 alunos.
A empresa também desenvolveu uma cervejaria em realidade virtual, projetos de mentoria e atendimento para clientes em diferentes níveis. A consultoria presencial para projetos de maior complexidade atende atualmente 45 fábricas em 14 estados brasileiros.
Para a apaixonada por cervejas do tipo juice ipa, que têm aspecto de suco, a trajetória dela não reflete a realidade de outras mulheres no mercado cervejeiro.
“Eu sou uma mulher dentro de um mercado masculino. Temos diferentes barreiras para enfrentar no mercado da cerveja, para além de ser apenas mulher. Temos a mulher, a cor da mulher, a formação da mulher. Temos muitos preconceitos para vencer ainda”, aponta.
A maternidade para Marianna
Marianna Rabelo trabalha, na maior parte do tempo, em casa e consegue ficar com Catarina. — Foto: Reprodução/Arquivo pessoal
Marianna – que confessa nunca ter sonhado em ser mãe – engravidou em 2023. A consultora, que se reconhece como workaholic, conta que trabalhou até o último dia, e que quando entrou em trabalho de parto ainda fez uma reunião de emergência com a equipe.
Em 15 de fevereiro de 2024, Catarina nasceu. Dois meses depois, a bebê viajou com os pais durante uma consultoria presencial feita pela mãe.
Marianna Rabelo e o marido com a filha Catarina, com dois meses — Foto: Reprodução/Arquivo pessoal
Marianna diz que consegue conciliar trabalho e maternidade, mas que são dois extremos: trabalhar no mundo das bebidas traz uma experiência sensorial e um estilo de vida muito vinculado aos eventos, já ser mãe traz o oposto, que são os limites.
“Parece que o mundo mudou de eixo e que as coisas mudaram de valor. O meu trabalho continua sendo parte de mim muito importante, mas hoje eu tenho algo que é tão importante quanto, ou senão muito mais. Maternidade resumida em uma palavra pra mim é limites. […] Me trouxe equilíbrio e sobriedade. Além disso, minha agenda não está mais sob o meu controle”, diz rindo.
No primeiro Dia das Mães sendo mamãe, Marianna espera comemorar em casa com a família reunida e claro, com uma cervejinha.
‘Minha mãe tem uma cervejaria e é ela quem faz a cerveja’
Também de família mineira, a empresária, cervejeira e sommelier de cervejas Marina Lima, de 42 anos, diz que a paixão pela bebida chegou bem antes de começar a produzir cervejas. Ela conta que desde que começou a consumir o produto – com preferência pelo tipo ipa e double ipa, que são mais amargas – ela já identificava sabores e texturas. 🍺
Em dezembro de 2020, a mãe do Arthur (veja foto acima) decidiu começar um negócio do zero na área do mercado cervejeiro. Fez cursos, se especializou. e em setembro de 2022 lançou a cervejaria Urban, em Brasília, com cinco tipos da bebida e receitas criadas por ela.
“No dia da inauguração eu chorei e passei mal. Eu pensava que não estava perfeito ainda: ‘E se não gostarem da minha cerveja?, perguntava’. Eu passei mal mesmo, a ponto de vomitar”, lembra Marina.
O apoio do irmão – que é sócio na cervejaria – do marido e do filho foram essenciais para que ela não desistisse. O filho Arthur, de 17 anos, conta para os amigos com orgulho sobre a profissão da mãe.
“Meu filho fala para os amigos: ‘A minha mãe tem uma cervejaria e é ela quem faz a cerveja’, e os amigos ‘Sério mano?’ , e ficam animados”, diz a cervejeira.
Um brinde a elas: Mães que atuam no mercado cervejeiro do DF explicam que cerveja também ‘é coisa de mulher’Brasília tem 17 fábricas de cerveja registradas, segundo Ministério da Agricultura. No Dia das Mães, profissionais destacam o que levam da maternidade para o trabalho como cervejeiras.
Mães, cervejeiras e empreendedoras: no Dia das Mães, comemorado neste domingo (10), o g1 mostra as histórias de duas mulheres que entraram em um mercado majoritariamente masculino e que hoje são exemplos no empreendedorismo feminino. Com diferentes trajetórias, elas provam que “cerveja também é coisa de mulher” e contam o que levam da experiência como mães para o dia a dia como cervejeiras.No Distrito Federal há 17 fábricas de cerveja registradas, de acordo com o Anuário da Cerveja, produzido pelo Ministério da Agricultura. No Brasil, são 1.847 cervejarias. No entanto, não há dados de quantas são gerenciadas por mulheres.🍺
‘Foi a cerveja que me encontrou’
Marianna Rabelo sempre gostou de estudar e pesquisar cervejas. — Foto: Reprodução/Arquivo pessoal
A mineira de Divinópolis, Marianna Rabelo, de 34 anos, conta que desde a faculdade sempre foi apaixonada pelo estudo da cerveja. Ela, que se formou em Engenharia de Alimentos na Universidade Federal de Lavras (UFLA), participou do programa do governo federal Ciência sem Fronteiras em 2104 e se capacitou em tecnologia da fabricação de cervejas na Universidade Corvinus de Budapeste, na Hungria.
“Foi a cerveja que me encontrou, não fui eu que a encontrei”, diz Marianna.
Quando voltou ao Brasil, em 2015, Marianna começou a produzir cervejas artesanais em Minas Gerais com o então namorado. Mas a sociedade e o namoro não deram certo.
“Entra nessa história o machismo e a mulher no mercado cervejeiro. Meu namorado falava que ele tinha o dom para ser o dono do negócio, que ele vinha de família de empresários, que a empresa tinha que permanecer no patrimônio da família dele. Me ofereceram o emprego de responsável técnica e virei funcionária do meu sonho”, lembra Marianna.
Ao mesmo tempo em que trabalhava na empresa, Marianna foi convidada para dar cursos de capacitação pelo Sebrae na área do mercado cervejeiro. Primeiro, em alguns municípios, depois em todo o estado de Minas Gerais e, posteriormente, no Brasil inteiro.
“A medida que eu fui crescendo, […] esse meu ex-namorado falou que a gente tinha que casar, que eu tinha que parar de trabalhar, que cervejaria era um ramo masculino. Ele perguntou como as pessoas me veriam com a roupa da fábrica de cerveja na rua”, diz a engenheira de alimentos.
Marianna decidiu não se casar. Em 2019, se mudou para o Distrito Federal onde o mercado cervejeiro estava em expansão. Em Brasília ela conheceu o mestre cervejeiro Eduardo Neves, com quem trabalhou e também por quem se apaixonou.
“A parceria deu tão certo que a gente se casou”, conta Marianna 🍻.
Na empresa Embuarama, que incluía projetos de consultoria para cervejeiros e a produção de cerveja, eles se tornaram sócios. Em 2020, durante o primeiro ano da pandemia de Covid-19, Marianna Rabelo criou uma plataforma online para cursos na área de produção de cerveja e planejamento para a criação de cervejarias que atualmente têm mais de 600 alunos.A empresa também desenvolveu uma cervejaria em realidade virtual, projetos de mentoria e atendimento para clientes em diferentes níveis. A consultoria presencial para projetos de maior complexidade atende atualmente 45 fábricas em 14 estados brasileiros.
Para a apaixonada por cervejas do tipo juice ipa, que têm aspecto de suco, a trajetória dela não reflete a realidade de outras mulheres no mercado cervejeiro.
“Eu sou uma mulher dentro de um mercado masculino. Temos diferentes barreiras para enfrentar no mercado da cerveja, para além de ser apenas mulher. Temos a mulher, a cor da mulher, a formação da mulher. Temos muitos preconceitos para vencer ainda”, aponta.
A maternidade para Marianna
Marianna Rabelo trabalha, na maior parte do tempo, em casa e consegue ficar com Catarina. — Foto: Reprodução/Arquivo pessoal
Marianna – que confessa nunca ter sonhado em ser mãe – engravidou em 2023. A consultora, que se reconhece como workaholic, conta que trabalhou até o último dia, e que quando entrou em trabalho de parto ainda fez uma reunião de emergência com a equipe.
Em 15 de fevereiro de 2024, Catarina nasceu. Dois meses depois, a bebê viajou com os pais durante uma consultoria presencial feita pela mãe.
Marianna Rabelo e o marido com a filha Catarina, com dois meses — Foto: Reprodução/Arquivo pessoal
Marianna diz que consegue conciliar trabalho e maternidade, mas que são dois extremos: trabalhar no mundo das bebidas traz uma experiência sensorial e um estilo de vida muito vinculado aos eventos, já ser mãe traz o oposto, que são os limites.
“Parece que o mundo mudou de eixo e que as coisas mudaram de valor. O meu trabalho continua sendo parte de mim muito importante, mas hoje eu tenho algo que é tão importante quanto, ou senão muito mais. Maternidade resumida em uma palavra pra mim é limites. […] Me trouxe equilíbrio e sobriedade. Além disso, minha agenda não está mais sob o meu controle”, diz rindo.
No primeiro Dia das Mães sendo mamãe, Marianna espera comemorar em casa com a família reunida e claro, com uma cervejinha.
‘Minha mãe tem uma cervejaria e é ela quem faz a cerveja’
Marina e o filho, Arthur — Foto: Reprodução/Redes sociais
Também de família mineira, a empresária, cervejeira e sommelier de cervejas Marina Lima, de 42 anos, diz que a paixão pela bebida chegou bem antes de começar a produzir cervejas. Ela conta que desde que começou a consumir o produto – com preferência pelo tipo ipa e double ipa, que são mais amargas – ela já identificava sabores e texturas. 🍺
Em dezembro de 2020, a mãe do Arthur (veja foto acima) decidiu começar um negócio do zero na área do mercado cervejeiro. Fez cursos, se especializou. e em setembro de 2022 lançou a cervejaria Urban, em Brasília, com cinco tipos da bebida e receitas criadas por ela.
“No dia da inauguração eu chorei e passei mal. Eu pensava que não estava perfeito ainda: ‘E se não gostarem da minha cerveja?, perguntava’. Eu passei mal mesmo, a ponto de vomitar”, lembra Marina.
O apoio do irmão – que é sócio na cervejaria – do marido e do filho foram essenciais para que ela não desistisse. O filho Arthur, de 17 anos, conta para os amigos com orgulho sobre a profissão da mãe.
“Meu filho fala para os amigos: ‘A minha mãe tem uma cervejaria e é ela quem faz a cerveja’, e os amigos ‘Sério mano?’ , e ficam animados”, diz a cervejeira.
Por ainda não ter 18 anos, Arthur não bebe, mas a mãe conta que, além de ajudar a arrumar as mesas, é ele é quem cuida da playlist que toca no bar. E o jovem espera que no aniversário de maioridade a mãe crie uma cerveja em sua homenagem, de preferência com leite e sabor de capuccino e achocolatado, o que Marina diz ser quase impossível acontecer. 🍻
A cervejaria da Marina, que produz sete rótulos, é uma “marca cigana” – quando cervejeiros que não têm equipamentos próprios realizam sua produção de forma terceirizada, em fábricas registradas. No Distrito Federal, segundo a Associação Brasileira da Cerveja Artesanal (Abracerva), há 15 cervejarias ciganas.
Um brinde a elas: Mães que atuam no mercado cervejeiro do DF explicam que cerveja também ‘é coisa de mulher’Brasília tem 17 fábricas de cerveja registradas, segundo Ministério da Agricultura. No Dia das Mães, profissionais destacam o que levam da maternidade para o trabalho como cervejeiras.
Por Fernanda Bastos, g1 DF
Mães, cervejeiras e empreendedoras: no Dia das Mães, comemorado neste domingo (10), as histórias de duas mulheres que entraram em um mercado majoritariamente masculino e que hoje são exemplos no empreendedorismo feminino. Com diferentes trajetórias, elas provam que “cerveja também é coisa de mulher” e contam o que levam da experiência como mães para o dia a dia como cervejeiras.No Distrito Federal há 17 fábricas de cerveja registradas, de acordo com o Anuário da Cerveja, produzido pelo Ministério da Agricultura. No Brasil, são 1.847 cervejarias. No entanto, não há dados de quantas são gerenciadas por mulheres.🍺
‘Foi a cerveja que me encontrou’Marianna Rabelo sempre gostou de estudar e pesquisar cervejas. — Foto: Reprodução/Arquivo pessoal
A mineira de Divinópolis, Marianna Rabelo, de 34 anos, conta que desde a faculdade sempre foi apaixonada pelo estudo da cerveja. Ela, que se formou em Engenharia de Alimentos na Universidade Federal de Lavras (UFLA), participou do programa do governo federal Ciência sem Fronteiras em 2104 e se capacitou em tecnologia da fabricação de cervejas na Universidade Corvinus de Budapeste, na Hungria.
“Foi a cerveja que me encontrou, não fui eu que a encontrei”, diz Marianna.
Quando voltou ao Brasil, em 2015, Marianna começou a produzir cervejas artesanais em Minas Gerais com o então namorado. Mas a sociedade e o namoro não deram certo.
“Entra nessa história o machismo e a mulher no mercado cervejeiro. Meu namorado falava que ele tinha o dom para ser o dono do negócio, que ele vinha de família de empresários, que a empresa tinha que permanecer no patrimônio da família dele. Me ofereceram o emprego de responsável técnica e virei funcionária do meu sonho”, lembra Marianna.
Ao mesmo tempo em que trabalhava na empresa, Marianna foi convidada para dar cursos de capacitação pelo Sebrae na área do mercado cervejeiro. Primeiro, em alguns municípios, depois em todo o estado de Minas Gerais e, posteriormente, no Brasil inteiro.
“A medida que eu fui crescendo, […] esse meu ex-namorado falou que a gente tinha que casar, que eu tinha que parar de trabalhar, que cervejaria era um ramo masculino. Ele perguntou como as pessoas me veriam com a roupa da fábrica de cerveja na rua”, diz a engenheira de alimentos.
Marianna decidiu não se casar. Em 2019, se mudou para o Distrito Federal onde o mercado cervejeiro estava em expansão. Em Brasília ela conheceu o mestre cervejeiro Eduardo Neves, com quem trabalhou e também por quem se apaixonou.
“A parceria deu tão certo que a gente se casou”, conta Marianna 🍻.
Na empresa Embuarama, que incluía projetos de consultoria para cervejeiros e a produção de cerveja, eles se tornaram sócios. Em 2020, durante o primeiro ano da pandemia de Covid-19, Marianna Rabelo criou uma plataforma online para cursos na área de produção de cerveja e planejamento para a criação de cervejarias que atualmente têm mais de 600 alunos.A empresa também desenvolveu uma cervejaria em realidade virtual, projetos de mentoria e atendimento para clientes em diferentes níveis. A consultoria presencial para projetos de maior complexidade atende atualmente 45 fábricas em 14 estados brasileiros.
Para a apaixonada por cervejas do tipo juice ipa, que têm aspecto de suco, a trajetória dela não reflete a realidade de outras mulheres no mercado cervejeiro.
“Eu sou uma mulher dentro de um mercado masculino. Temos diferentes barreiras para enfrentar no mercado da cerveja, para além de ser apenas mulher. Temos a mulher, a cor da mulher, a formação da mulher. Temos muitos preconceitos para vencer ainda”, aponta.
A maternidade para Marianna
Marianna Rabelo trabalha, na maior parte do tempo, em casa e consegue ficar com Catarina. — Foto: Reprodução/Arquivo pessoal
Marianna – que confessa nunca ter sonhado em ser mãe – engravidou em 2023. A consultora, que se reconhece como workaholic, conta que trabalhou até o último dia, e que quando entrou em trabalho de parto ainda fez uma reunião de emergência com a equipe.Em 15 de fevereiro de 2024, Catarina nasceu. Dois meses depois, a bebê viajou com os pais durante uma consultoria presencial feita pela mãe.
Marianna Rabelo e o marido com a filha Catarina, com dois meses — Foto: Reprodução/Arquivo pessoal
Marianna diz que consegue conciliar trabalho e maternidade, mas que são dois extremos: trabalhar no mundo das bebidas traz uma experiência sensorial e um estilo de vida muito vinculado aos eventos, já ser mãe traz o oposto, que são os limites.
Parece que o mundo mudou de eixo e que as coisas mudaram de valor. O meu trabalho continua sendo parte de mim muito importante, mas hoje eu tenho algo que é tão importante quanto, ou senão muito mais. Maternidade resumida em uma palavra pra mim é limites. […] Me trouxe equilíbrio e sobriedade. Além disso, minha agenda não está mais sob o meu controle”, diz rindo.
No primeiro Dia das Mães sendo mamãe, Marianna espera comemorar em casa com a família reunida e claro, com uma cervejinha.
‘Minha mãe tem uma cervejaria e é ela quem faz a cerveja’
Marina e o filho, Arthur — Foto: Reprodução/Redes sociais
Também de família mineira, a empresária, cervejeira e sommelier de cervejas Marina Lima, de 42 anos, diz que a paixão pela bebida chegou bem antes de começar a produzir cervejas. Ela conta que desde que começou a consumir o produto – com preferência pelo tipo ipa e double ipa, que são mais amargas – ela já identificava sabores e texturas. 🍺Em dezembro de 2020, a mãe do Arthur (veja foto acima) decidiu começar um negócio do zero na área do mercado cervejeiro. Fez cursos, se especializou. e em setembro de 2022 lançou a cervejaria Urban, em Brasília, com cinco tipos da bebida e receitas criadas por ela.
“No dia da inauguração eu chorei e passei mal. Eu pensava que não estava perfeito ainda: ‘E se não gostarem da minha cerveja?, perguntava’. Eu passei mal mesmo, a ponto de vomitar”, lembra Marina.
O apoio do irmão – que é sócio na cervejaria – do marido e do filho foram essenciais para que ela não desistisse. O filho Arthur, de 17 anos, conta para os amigos com orgulho sobre a profissão da mãe.
“Meu filho fala para os amigos: ‘A minha mãe tem uma cervejaria e é ela quem faz a cerveja’, e os amigos ‘Sério mano?’ , e ficam animados”, diz a cervejeira.
Por ainda não ter 18 anos, Arthur não bebe, mas a mãe conta que, além de ajudar a arrumar as mesas, é ele é quem cuida da playlist que toca no bar. E o jovem espera que no aniversário de maioridade a mãe crie uma cerveja em sua homenagem, de preferência com leite e sabor de capuccino e achocolatado, o que Marina diz ser quase impossível acontecer. 🍻 Ativar somCervejaria Urban, criada por Marina Lima, fica no Sudoeste e conta com sete rótulos.
A cervejaria da Marina, que produz sete rótulos, é uma “marca cigana” – quando cervejeiros que não têm equipamentos próprios realizam sua produção de forma terceirizada, em fábricas registradas. No Distrito Federal, segundo a Associação Brasileira da Cerveja Artesanal (Abracerva), há 15 cervejarias ciganas.
“A gente prega muito por desmistificar, primeiro, que cerveja é coisa de homem, mas também que cerveja você não pode tomar em qualquer momento do dia. […] Nunca sofri preconceito, quando falo que faço cerveja, o comentário é ‘Nossa, mas que legal uma mulher fazendo cerveja’.. […] Outras abriram essas portas. […] Eu fico impressionada porque o meio é completamente masculino e é a gente que tá mudando isso”, diz Marina.
A alquimia da produção de cerveja
A empresária Marina Lima criou a cervejaria Urban em 2022. — Foto: Fernanda Bastos/g1
Marina Lima explica como é o processo para a criação dos rótulos das suas cervejas especiais:
- Escolher um estilo de cerveja
- Pensar nos insumos que vão criar o efeito necessário
- Realização de testes em casa, produzindo o chá com os insumos escolhidos
- Replicar na fábrica
- Produzir em massa
Por Fernanda Bastos, g1 DF