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“Viva Flor”. O dispositivo que ajuda a preservar quase 2.000 mil vids de mulheres no DF

“Viva Flor”. O dispositivo que ajuda a preservar quase 2.000 mil vids de mulheres no DF

Guará DF, 09 de março de 2024

Redação Guará News

Alexandre Torres

Programa Mulher Mais Segura, do Governo do Distrito Federal, monitora vítimas e agressores 24 horas por dia; nenhuma mulher atendida sofreu feminicídio até agora

Até que um dia ele veio muito agressivo para cima de mim. Graças a Deus, tinha uns policiais militares passando e o prenderam na hora em que ele entrou em casa. Já era a quarta vez que ele era preso. Logo depois, os policiais me levaram para acionar o Viva Flor, pois eu não aguentava mais”. O relato é da empregada doméstica Ana Silva (nome fictício), 32, que por quase 15 anos foi casada com um agressor. Como se não bastasse a violência, principalmente psicológica, ela ainda precisou lidar com as constantes perseguições e ameaças depois do término do relacionamento.

“Ele ia à minha igreja, vinha ao meu serviço, me xingava. Até que resolvi ir para a Bahia, porque tinha medo. Depois de um tempo, voltei, e ele continuou a me perseguir”, completa.

Atualmente, 604 mulheres em situação de risco extremo utilizam o equipamento de proteção no DF | Foto: Renato Alves/ Agência Brasília

Ana é uma das 1,7 mil mulheres que tiveram a vida preservada pelos programas de monitoramento e proteção do Governo do Distrito Federal (GDF) desde 2021. A rede de proteção do Mulher Mais Segura interrompeu esse ciclo de violência, pois disponibiliza às vítimas o Dispositivo de Proteção Preventiva (DPP) e o Viva Flor. Com esses recursos, mulheres e agressores passaram a ser monitorados 24 horas por dia de forma efetiva. Desde o início da iniciativa, nenhuma mulher que estava com o dispositivo foi vítima de feminicídio ou de agressões físicas.

Atualmente, 604 mulheres em situação de risco extremo utilizam o equipamento de proteção na capital do país. Recentemente, o acesso foi facilitado pelo GDF, e agora as mulheres podem, inclusive, obter os equipamentos com ou sem medida protetiva expedida pelo Poder Judiciário.

As duas delegacias especiais de atendimento à mulher, Deam I e II, localizadas na Asa Sul e em Ceilândia, respectivamente, podem distribuir os dispositivos de proteção para as vítimas

As duas delegacias especiais de atendimento à mulher, Deam I e II, localizadas na Asa Sul e em Ceilândia, respectivamente, podem distribuir os dispositivos de proteção para as vítimas. A mudança ampliou o número de mulheres atendidas de 283 em setembro de 2023 para as mais de 600 monitoradas nos primeiros meses de 2024.

Para a diretora de Monitoramento de Pessoas Protegidas, Andrea Boanova, da Secretaria de Segurança Pública (SSP-DF), os dados mostram a efetividade dos protocolos criados pela pasta para a proteção de vítimas de violência de gênero. “Desde que iniciamos o monitoramento, temos 100% de efetividade, pois nenhuma das vítimas que passaram pelo programa teve a integridade física violada. Isso para nós é muito positivo”, destaca a gestora.

O agressor passa a utilizar uma tornozeleira eletrônica e a vítima recebe um dispositivo com o aplicativo do programa | Foto: Divulgação/ SSP-DF

Agressores que tentaram infringir a determinação judicial e se aproximaram das vítimas foram presos antes de uma possível agressão ou feminicídio. “Já efetuamos a prisão de 45 agressores, e somente nos meses de janeiro e fevereiro foram sete, em decorrência da atuação da Central de Monitoramento que acompanha ambos por 24 horas e tem a possibilidade de oferecer uma proteção mais próxima da mulher”, completa Boanova.

Como funciona o monitoramento

Servidores da SSP-DF, entre bombeiros e policiais civis e militares, fazem a vigilância de agressores e vítimas 24 horas por dia, sete dias por semana. O agressor passa a utilizar uma tornozeleira eletrônica, e a vítima recebe um dispositivo com o aplicativo do programa. Quando o homem viola a área de exclusão, que é o perímetro de distanciamento determinado pelo Judiciário, todos recebem um alerta: a vítima, o ex-companheiro e a diretoria.

Monitorados pela tecnologia de georreferenciamento, com abrangência em todo o DF, os equipamentos possibilitam que as equipes acompanhem toda a movimentação de ambos em tempo real | Foto: Arquivo/ Agência Brasília

Monitorados pela tecnologia de georreferenciamento, com abrangência em todo o DF, os equipamentos possibilitam que as equipes acompanhem toda a movimentação de ambos em tempo real, o que permite impedir o agressor de se aproximar da vítima.

“Entramos em contato com a mulher para orientar na busca por um local seguro. Ela recebe no celular um mapa com a geolocalização do potencial agressor, e o áudio do aparelho dela é aberto para que possamos entender o que está acontecendo ao redor. A equipe entra em contato também com ele, alertando-o que está em local proibido e que precisa sair das proximidades da vítima. Caso não obedeça, a Polícia Militar é acionada com todas as informações de localização e imagem para efetuar a prisão em flagrante delito”, explica a diretora da DMPP.

Ana conta que o programa de proteção lhe garantiu tranquilidade para seguir a vida com os dois filhos, de 5 e 8 anos. “Está me ajudando muito, já tem mais de três meses que ele não me perturba mais”, relata. O GDF, agora, estuda disponibilizar os dispositivos de proteção não apenas na Deam, mas em todas as delegacias circunscricionais, o que ampliará ainda mais o atendimento às mulheres, para que histórias como a de Ana tenham um desfecho de paz.

Por Josiane Borges, da Agência Brasília | Edição: Vinicius Nader