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Tema ainda é tabu. Setembro Amarelo: incidência de suicídio no Distrito Federal é maior entre jovens de 20 a 29 anos

Por Milena Castro* e Walder Galvão, G1 DF

Adaptações: Alexandre Torres

Guará News


Taxa de suicídios é maior entre homens, diz OMS. — Foto: Pixabay

Taxa de suicídios é maior entre homens, diz OMS. — Foto: Pixabay

A incidência de suicídio no Distrito Federal é maior entre pessoas de 20 a 29 anos. Um levantamento feito pelo G1com dados da Secretaria de Saúde, obtidos por meio da Lei de Acesso à Informação (LAI), mostra que, em média, a cada 100 mil moradores da capital, desse grupo etário, 7,9 tiraram a própria vida por ano.

De 2010 a setembro deste ano, 401 pessoas entre 20 e 29 anos cometeram suicídio no DF. No entanto, em números absolutos, 420 homens e mulheres – a maioria das vítimas – tinha de 30 a 39 anos. Porém, o grupo tem a taxa de mortos anual de 7,6 a cada 100 mil habitantes e ocupa o segundo lugar do ranking.

  • Conheça aqui a cartilha elaborada pela Associação Brasileira de Psiquiatria e pelo Conselho Federal de Medicina sobre prevenção ao suicídio

A campanha de prevenção ao suicídio, Setembro Amarelo, termina nesta quarta-feira (30). No entanto, há serviços gratuitos que funcionam o ano inteiro, 24 horas por dia, que podem ser usados em situações de dúvida ou risco (veja contatos mais abaixo).

Para o psiquiatra e professor da Faculdade de Medicina da Universidade de Brasília (UnB), Leonardo de Almeida Sodré, o suicídio tem prevalência maior entre adultos jovens do sexo masculino.

O especialista informa que, na maioria dos casos, as vítimas têm doença psiquiátrica – diagnosticada ou não. “Transtornos mentais, como depressões graves recorrente, transtorno bipolar e esquizofrenia, são doenças psiquiátricas que costumam apresentar os primeiros episódios nesta faixa etária. Isso aumenta em muito o risco de suicídio, cerca de 10 vezes”, alerta.

O levantamento do usou dados populacionais por faixa etária da Pesquisa Distrital por Amostra de Domicílios (PDAD) de 2018, feito pela Companhia de Planejamento do Distrito Federal (Codeplan-DF). Veja:

Média anual da incidência de suicídio no Distrito Federal por 100 mil habitantes
Pessoas entre 20 e 29 anos têm a maior taxa de autoextermínio na capital

5,85,87,97,97,67,66,56,56,76,75,35,36,16,12,62,615 a 19 anos20 a 29 anos30 a 39 anos40 a 49 anos50 a 59 anos60 a 69 anos70 a 79 anos80 anos ou mais0246810

40 a 49 anos
6,5
Fonte: Secretaria de Saúde e Codeplan

Crescimento

Os dados da Secretaria de Saúde também mostram crescimento no número de suicídios no Distrito Federal desde 2016. Naquele ano, por exemplo, a capital registrou 161 mortes dessa natureza.

Em 2019, 206 pessoas tiraram a própria vida, ou seja, ocorreu um aumento de de 27,95% entre o período. Este ano, a pasta contabilizou 74 vítimas entre janeiro e setembro. Veja gráfico abaixo:

Registros de suicídio no Distrito Federal
Quantidade de vítimas mostra aumento desde 2016

Dados de 2020 contabilizam informações até 9 de setembro Suicídio no Distrito Federal

2015
● Suicídio no Distrito Federal: 148
Fonte: Secretaria de Saúde

O levantamento ainda mostra a diferença do número de mortes entre gêneros. Ao todo, entre 2010 e setembro deste ano, 1.689 pessoas tiraram a própria vida na capital. Dessas, 1.250 eram homens e 439 mulheres, portanto, a quantidade das vítimas masculinas é 184% maior.

O psiquiatra Leonardo Sodré explica que características culturais e sociais podem explicar a diferença da quantidade de suicídio entre os gêneros.

“Um fator importante é a agressividade e impulsividade da população masculina: os homens costumam fazer uso de formas mais violentas e letais”, aponta Sodré.

O especialista comenta que os homens tendem a apresentar “o primeiro surto de quadros psicóticos e de humor mais precocemente e com quadros mais graves”. Além disso, de acordo com o psiquiatra, o público masculino tem maior prevalência do uso de álcool, o que potencializa a impulsividade e a agressividade.

Suicídio entre idosos

Idoso sentado em cadeira, em imagem de arquivo — Foto: TV Globo/ Reprodução

Idoso sentado em cadeira, em imagem de arquivo — Foto: TV Globo/ Reprodução

No ranking de incidência de suicídio no Distrito Federal, pessoas idosas começam a aparecer a partir da quinta posição. Entretanto, pesquisadores alertam que esse público também necessita de assistência.

Renan Lyra, doutorando do departamento de psicologia da Universidade de Otago, da Nova Zelândia, desenvolveu uma pesquisa de mestrado na Universidade de Brasília (UnB), em 2018, que trata sobre a experiência do envelhecimento na teoria psicológica do suicídio.

De acordo com o pesquisador, dados mais recentes da Organização Mundial de Saúde (OMS), de 2015, mostram que, no Brasil, há maior incidência de suicídio em pessoas idosas, principalmente nos homens.

“Na minha pesquisa, apenas mulheres aceitaram participar. Por mais que seja um viés, vejo também como um dado. Os idosos do sexo masculino estão menos propensos a falar desse problema de saúde mental”, explica Lyra.

Ele diz ainda que a falta da inserção dos idosos na sociedade é um dos fatores que impacta na taxa. Segundo Lyra, há uma visão cultural de que as pessoas mais velhas estão do lado oposto da produtividade e de que elas estão no fim da vida, à espera do fim.

“Isso é um fator delicado. Temos que tentar mudar essa lógica e incentivar locais para que eles [os idosos] possam ser inseridos”, pondera.

O que fazer com uma pessoa em quem se identifica risco para suicídio?

Em 10 de setembro, se comemora o Dia Mundial de Prevenção ao Suicídio. Por isso, surgiu a campanha conhecida como Setembro Amarelo. O mês é marcado por eventos que ressaltam a importância do combate ao autoextermínio.

Entretanto, há mecanismos de identificação que podem salvar vidas e canais de ajuda que funcionam 24 horas por dia, o ano inteiro. Segundo especialistas, há formas ajudar em situações consideradas de risco, ou mesmo dúvida.

O primeiro passo é conversar abertamente e, principalmente, saber ouvir. Sem julgamentos e sem preconceitos. A pessoa precisa de apoio e precisa entender que você pode ser um porto seguro para ela.

Procure sempre ajuda de um profissional habilitado. O Ministério da Saúde divulga os seguintes endereços:

  • CAPS e Unidades Básicas de Saúde (Saúde da Família, Postos e Centros de Saúde).
  • UPA 24H, SAMU 192, Pronto Socorro; Hospitais
  • Centro de Valorização da Vida – 188 (ligação gratuita). O CVV – Centro de Valorização da Vida realiza apoio emocional e prevenção do suicídio, atendendo voluntária e gratuitamente todas as pessoas que querem e precisam conversar, sob total sigilo, por telefone, e-mail, chat e voip, 24 horas por dia, todos os dias. A ligação para o CVV em parceria com o SUS, por meio do número 188, é gratuita a partir de qualquer linha telefônica fixa ou celular.
  • Também é possível acessar www.cvv.org.br para chat, Skype, e-mail e mais informações sobre a ligação gratuita.