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Plano de Preservação do Conjunto Urbanístico de Brasília (PPCUB), em discussão na CLDF

Plano de Preservação do Conjunto Urbanístico de Brasília (PPCUB), em discussão na CLDF

PPCUB não está pronto para votação, afirmam especialistas

Guará DF, 20 de maio de 2024

CLDF: definidos primeiro e segundo secretários

CLDF: definidos primeiro e segundo secretários

Redação Guará News

Por Alexandre Nunes Torres

O projeto de lei complementar 41/2024, que trata do Plano de Preservação do Conjunto Urbanístico de Brasília (PPCUB), ainda não está pronto para ser votado pela Câmara Legislativa. Esta é a posição de vários especialistas que participaram de comissão geral na tarde desta quarta-feira (15) para debater a última versão do PPCUB, enviada pelo governador Ibaneis Rocha ao parlamento local.

A iniciativa da comissão geral partiu da Comissão de Educação, Saúde e Cultura (CESC) e já é a terceira ocasião neste ano em que a Câmara Legislativa promove debate público sobre o tema. O presidente da CESC, deputado Gabriel Magno (PT), ressaltou que a preservação do conjunto urbanístico da cidade não impede o desenvolvimento local. “O fato de Brasília ser patrimônio cultural da humanidade é um aliado do desenvolvimento, e não um inimigo, como alguns pensam. É a preservação que garante um desenvolvimento sustentável da cidade”, observou. Em relação ao projeto de lei complementar, o parlamentar apontou para o risco de retirada de competência do Legislativo. “O PL do PPCUB retira atribuições desta Casa e isso é inaceitável”, criticou.

Para o professor Benny Schvarsberg, da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da UnB, o projeto carece de mais conteúdo relativo à preservação. “Prevalece a função de plano de uso e ocupação do solo em detrimento ao plano de preservação. Além disso, estão sendo passados vários cheques em branco, pois o projeto prevê a aprovação de alterações por decreto, passando por cima inclusive desta Casa”, destacou. José Leme Galvão Júnior, do Fórum das Entidades em Defesa do Patrimônio Cultural Brasileiro, também criticou a falta de dispositivos de preservação na proposta do governo. “Não reconhecemos nesse projeto um plano de preservação”, afirmou.

A professora Angelina Nardelli, do Conselho de Defesa do Patrimônio Cultural do DF, vinculado à Secretaria de Cultura, também apontou deficiências no projeto. “Ainda não foram apresentados os planos de preservação. Esse projeto ainda não está pronto. Ele não responde a uma política ativa da gestão do território, sua conservação e restauro. O projeto inclui uma política ativa de ordenamento territorial de uma cidade comum, não de uma cidade como Brasília, que é tombada pelo patrimônio histórico. Não há determinação da preservação da paisagem de Brasília como um todo. Essa legislação sequer descreve o objeto tombado em si”, observou.

A constatação de que o projeto de lei complementar ainda precisa ser aperfeiçoado também foi compartilhada pela arquiteta Maria Emilia Stenzel, do Conselho Internacional de Monumentos e Sítios da Unesco. “Identificamos que o PPCUB traz uma série de lacunas conceituais do ponto de vista da preservação e lacunas normativas que dificultam os objetivos principais do plano”, disse.

Além de apresentar deficiências conceituais e normativas para a preservação urbanística de Brasília, o projeto também corre o risco de ser questionado por inconstitucionalidade. Essa é a avaliação da promotora do Ministério Público do DF, Marilda Fontinele. “Eu vislumbro muitas inconstitucionalidades nesse projeto. O norte do plano é a preservação das quatro escalas urbanísticas de Brasília. Mas como vamos preservar as quatro escalas se não temos um inventário prévio? Nós precisamos primeiro inventariar todas as escalas. Precisamos definir precisamente o objeto da preservação. Além disso, esse plano é tão aberto que passa por cima deste parlamento. Se o projeto for aprovado, ele poderá ser modificado a qualquer momento sem a participação desta Casa. O que vejo nesse plano é a regularização de uma série de irregularidades”, criticou. A promotora fez ainda um apelo aos deputados distritais: “Faço um apelo ao Legislativo: não deixem uma questão tão cara para Brasília desaguar no Judiciário, pois a decisão judicial nem sempre atende aos anseios da sociedade como um todo”, alertou.

Para a ex-deputada distrital Arlete Sampaio, os problemas relativos à preservação do conjunto urbanístico da cidade poderiam ser melhor resolvidos se houvesse um órgão público dedicado exclusivamente à preservação. “O problema é que Brasília não tem um órgão gestor desse patrimônio. E se não há quem faça a gestão do patrimônio, também não há quem fiscalize”, observou.

A deputada Paula Belmonte (Cidadania) ressaltou a importância de se discutir e votar um projeto dessa magnitude sem urgência. “Não precisamos ter pressa. O projeto está sendo elaborado há dez anos, mas foram vários atores diferentes nesse período. Os representantes do povo precisam analisar e opinar sobre o projeto. Queremos votar um projeto que seja o melhor possível. Não podemos ser pressionados para votar esse projeto no primeiro semestre”, afirmou a deputada.

Por fim, a secretária adjunta da Secretaria de Desenvolvimento Urbano e Habitação (SEDUH), Janaina Vieira, procurou defender a proposta elaborada pelo governo. “Esse é um projeto complexo, que está sendo discutido há mais de 10 anos. Já passou por várias gestões, vários secretários. Pode ser que este não seja o melhor projeto de lei, mas é o projeto que a gente tem. O plano não é um cheque em branco. Evitamos mexer em parâmetros urbanísticos, como altura, afastamento, etc. Temos casos de regularização? Sim, infelizmente a cidade foi mudando e a legislação não acompanhou as mudanças. Estamos autorizando novos usos para os lotes, mas isso não vai impactar no tombamento”, respondeu. A secretária também se colocou à disposição de todos os participantes para discutir pontos do projeto.

 

 

Eder Wen – Agência CLDF