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‘O Ministério Público pode confiar na Polícia Civil’, diz novo corregedor-geral da corporação no DF

Por Afonso Ferreira, G1 DF

 


Adval Cardoso, Corregedor-Geral da Polícia Civil do DF, em imagem de arquivo — Foto: Acacio Pinheiro/Agência Brasília

Adval Cardoso, Corregedor-Geral da Polícia Civil do DF, em imagem de arquivo — Foto: Acacio Pinheiro/Agência Brasília

Nomeado na segunda-feira (14) para ser o novo corregedor-geral da Polícia Civil do Distrito Federal, o delegado Adval Cardoso assume a função em meio a investigações que atingem em cheio a corporação e o governo do DF. Uma dessas apurações é a operação Falso Negativo, que analisa supostos desvios na Saúde e provocou a prisão do ex-secretário Francisco Araújo.

A Polícia Civil, no entanto, não foi acionada para participar das investigações pelo Ministério Público do DF, que comandou a ação sozinho. Após a prisão da cúpula da Saúde, dois policiais civis também foram detidos por suspeita de favorecimento a um dos investigados na carceragem. O episódio levantou críticas do Sindicato dos Policiais Civis do DF (Sinpol-DF).

Em meio ao clima acirrado, o novo corregedor-geral disse, em entrevista ao G1, que não tem detalhes sobre esses casos e evitou entrar em detalhes, mas garantiu: “O Ministério Público pode confiar na Polícia Civil”.

Até 8 de setembro, Adval Cardoso chefiava a Secretaria de Administração Penitenciária do DF, mas perdeu o cargo em meio a diversas mudanças estratégicas no governo local. Na nova função, ele vai liderar investigações como a citada acima, além de apurar crimes e infrações administrativas praticadas na corporação.

Com quase 34 anos de carreira na Segurança Pública, ele afirma que a gestão será pautada no combate à corrupção. Também dá nota 8 para a Polícia Civil e diz que vai trabalhar com “transparência e legalidade”. Veja os temas abordados na conversa e leia a entrevista abaixo:

  • Operação Falso Negativo
  • Saída do Sistema Penitenciário
  • Corporativismo
  • Feminicídio cometidos por policiais
  • Corrupção e futuro na Corregedoria
Adval Cardoso, Corregedor-Geral da Polícia Civil do DF, imagem de arquivo — Foto: Agência Brasília/Reprodução

Adval Cardoso, Corregedor-Geral da Polícia Civil do DF, imagem de arquivo — Foto: Agência Brasília/Reprodução

G1: Qual nota, de 0 a 10, o senhor dá para a Polícia Civil?

Adval Cardoso: A nossa Polícia Civil sempre foi uma referência nacional. Hoje, nós temos uma carência muito grande de servidores. Isso acaba prejudicando muito, por isso dou a nota 8. O profissionalismo dentro da corporação é muito grande. São servidores que têm no sangue a vontade de ser policial.

Mesmo com a escassez de servidores, quase toda semana tem operações sendo realizadas. Ainda bem que existe o trabalho voluntário remunerado e os servidores estão se desdobrando e desempenhando um trabalho muito forte de dedicação. Eu acredito e aprendi amar a instituição da qual faço parte.

A Polícia Civil não fez parte da operação Falso Negativo, deflagrada pelo Ministério Público. Há informações que a corporação não participou para não vazar detalhes da investigação. Isso realmente aconteceu?

Adval Cardoso: O Ministério Público, o Judiciário e quem quer que seja pode ter certeza, como sempre aconteceu, o MP sempre trabalhou muito próximo da Polícia Civil.

O Ministério Público pode confiar na Polícia Civil, todas as instituições e a sociedade como um todo podem confiar. Nós vamos sempre nos pautar na legalidade, no sigilo profissional.

Fachada do Departamento de Polícia Especializada (DPE) do Distrito Federal — Foto: Dênio Simões/Agência Brasília

Fachada do Departamento de Polícia Especializada (DPE) do Distrito Federal — Foto: Dênio Simões/Agência Brasília

G1: No dia 31 de agosto, o diretor da Divisão de Controle e Custódia de Presos do DF e um agente da Polícia Civil foram detidos por suposto favorecimento a um dos investigados na Operação Falso Negativo. Como o senhor vê essa situação?

Adval Cardoso: Foi uma situação muito triste. Qualquer coisa que manche a imagem da instituição ou que envolva uma situação contrária à legalidade, a gente sente muito.

A Corregedoria tem que ser muito correta. Ela tem que apurar respeitando todo o trâmite da legalidade. Mas ao final, concluindo pela absolvição ou pela condenação de qualquer servidor, isso será executado da forma que tem que ser.

G1O que aconteceu com os policiais envolvidos nesse episódio?

Adval Cardoso: Eles foram soltos e a situação continua sendo apurada. Quando eu cheguei, eu disse que era para dar continuatividade. O Ministério Público está acompanhando tudo.

Presos do Presídio da Papuda em Brasília, em imagem de arquivo. — Foto: Gláucio Dettmar/Agência CNJ

Presos do Presídio da Papuda em Brasília, em imagem de arquivo. — Foto: Gláucio Dettmar/Agência CNJ

G1: Sua saída do comando do sistema penitenciário do DF foi repentina. O que aconteceu?

Adval Cardoso: Ali é um cargo comissionado, a qualquer momento pode haver mudanças. Eu saí muito feliz. Foi uma batalha muito árdua nessa pandemia.

Para o sistema prisional, que no início da pandemia estava com mais de 17 mil presos, nós tivemos que trabalhar muito. O governador foi muito sensível com o sistema prisional e me apoiou muito durante todo o período em que fiquei lá. Só tenho que agradecer.

G1Qual nota, de 0 a 10, o senhor dá para o sistema penitenciário do Distrito Federal?

Adval Cardoso: A nota que eu dou também é 8. O nosso sistema prisional é um modelo no Brasil. O problema que podemos dizer é a superlotação, que ocorre em todo país e no mundo.

Existe corporativismo dentro da Polícia Civil? Isso prejudica a corporação?

Adval Cardoso: Qualquer corporativismo que seja maléfico tem que ser combatido. Nós não podemos nos apegar ao corporativismo.

Nós temos que ser legalistas. Temos inclusive, que nos pautar pela legalidade nas apurações. Nós não podemos ir porque a imprensa divulgou. Os fatos, quando saem publicamente, saem com muitos desvios.

A gente tem que ter muita atenção para que aquele servidor que cometeu um deslize pague pelo que fez com provas. Nosso papel é mostrar uma polícia íntegra, responsável e respeitada.

Em maio de 2019, policial civil invadiu Secretaria de Educação do DF e matou servidora da pasta. — Foto: Facebook/Reprodução

Em maio de 2019, policial civil invadiu Secretaria de Educação do DF e matou servidora da pasta. — Foto: Facebook/Reprodução

Nos últimos anos, noticiamos vários casos de feminicídios, entre eles, casos em que os autores eram policiais civis. Como prevenir que membros da corporação cometam esse crime?

Adval Cardoso: A Polícia Civil faz palestras constantes. O instrumento de trabalho do policial civil é uma arma de fogo e o risco é muito maior. Nossa preocupação tem que ser muito maior.

Ao primeiro sinal de risco de um crime de feminicídio, nós temos a obrigação de tomar todas as providências que a lei permite, como suspensão do porte de arma da corporação, apreensão de outras armas que por ventura o policial tenha.

O que podemos fazer é prevenir. Esses crimes geralmente acontecem dentro de casa. A Polícia Civil está sempre preocupada com isso. Caso o crime seja consumado, uma das sanções que existem é a perda da função e a prisão.

G1: Como será o seu trabalho à frente da Corregedoria?

Adval Cardoso: Vai ser uma gestão pautada principalmente na legalidade e no combate à corrupção. Queremos fazer com que a atividade policial seja modelo. O índice de corrupção na nossa instituição é muito baixo.

Uma das metas da Polícia Civil é o combate à corrupção na instituição. Toda instituição tem um mínimo de desvio de conduta. Não vou dizer que não existe. Quando nós descobrimos, a situação é apurada e, se comprovada, o servidor é punido rigorosamente.

Para os servidores que apresentam desvio de conduta, a apuração e a punição são extremamente eficazes. Isso faz com que a credibilidade da Polícia Civil esteja sempre em alta. É o que eu vou fazer enquanto estiver nela. Vou manter esse padrão, para que a sociedade possa confiar e contar com a gente.

Adaptações: Alexandre Torres

Guará News