No Dia do Aviador, conheça quem cruza o céu do país para salvar vidas
Militares da Força Aérea Brasileira transportam órgãos para transplante, além de insumos usados no combate à Covid-19 e ajudam a combater incêndios no Pantanal.
Por Marília Marques, G1 DF
Tenente-coronel aviador Christiano Pereira Haag, 42 anos, e capitão aviadora Bruna Nascentes Teles, de 32 anos — Foto: Wilhan Campos/FAB
Pelos ares, no comando de aeronaves, militares da Força Aérea Brasileira (FAB) cruzam o céu do país em missões especiais. Em comemoração ao Dia do Aviador, celebrado nesta sexta-feira (23), o G1 conversou com homens e mulheres que não medem esforços e “vivem de prontidão” para salvar vidas.
A data é lembrada na corporação em homenagem ao primeiro voo do 14-Bis, realizado em 1906 pelo brasileiro Alberto Santos-Dumont, no Campo de Bagatelle, na França.
- VÍDEO: aeronave de caça da FAB faz voo de treinamento no céu de Brasília
- Pilotos aposentados da Força Aérea montam esquadrilha da fumaça particular
- Esquadrilha da Fumaça: piloto conta curiosidades sobre manobras e treinos; leia entrevista
Na FAB, os militares atuam no transporte de órgãos para transplante, assim como lançamento de água para combater incêndios que atingem o Pantanal. Só nos primeiros 14 dias de outubro, 2.536 focos de queimadas destruíram parte do bioma.
Em outra missão, aeronaves decolam para levar insumos à população no combate à Covid-19. As ações também envolvem descontaminação de espaços públicos, doações de sangue, transporte de medicamentos e equipamentos de saúde. Confira relatos:
Transporte de órgãos para salvar vidas
Tenente-Coronel Aviador Christiano Pereira Haag, da FAB — Foto: Wilhan Campos/FAB
Baseado em Brasília, o tenente-coronel Christiano Pereira Haag, de 42 anos, traz no currículo seis mil horas de voo. Ele é o comandante do Esquadrão de Transporte Aéreo da capital, responsável por levar órgãos de doadores a pacientes que há anos aguardam pela possibilidade de uma vida nova.
“Transportar um órgão para transplante é uma das missões mais nobres da FAB […] levar esperança de vida para uma pessoa, certamente nos remete à sensação de dever cumprido”, disse ao G1.
De janeiro a setembro desse ano, a Força Aérea foi acionada para 151 missões do tipo. Ao todo, 170 órgãos foram transportados, entre fígado (91), coração (40) e rins (33). Nos últimos quatro anos, 993 vidas foram salvas com as doações.
De dentro da aeronave, o coronel Haag é responsável por operar o avião U-100 Phenom. O amor à profissão, na definição do militar, “resume bem como é viver em prontidão“. Em todo país, o transporte de órgãos ocorre 24 horas por dia, sem interrupção.
“Não há motivo maior de orgulho em saber que as suas ações refletirão em esperança e vida para um brasileiro que necessita.”
capitão aviadora Bruna Nascentes Teles, de 32 anos, da FAB — Foto: Wilhan Campos/FAB
Pilota de aeronaves
Em função semelhante ao do coronel, a capitão aviadora Bruna Nascentes Teles, de 32 anos, também comanda aeronaves da FAB. A militar ingressou na corporação em 2008, e compartilha do sentimento de prontidão que a profissão exige.
“A partir do momento que somos acionados para alguma missão, sabemos que a vida de alguém depende da nossa agilidade, e por isso é muito gratificante e também uma enorme responsabilidade cumprir a missão, independente do dia ou do horário”, conta.
Ao ser perguntada sobre o sentimento ao sair de casa todos os dias para o trabalho, a capitão fala em “gratidão”.
“É muito gratificante saber que estou contribuindo para salvar uma vida. Sempre que possível tento entrar em contato com alguém da equipe médica para saber se o transplante deu certo.”
Combate a incêndios no Pantanal
Linga de fogo no Pantanal de MS — Foto: Corpo de Bombeiros/Divulgação
Em outra missão, como piloto do C-130 Hércules, o capitão Ítalo Holanda De Oliveira, baseado no Rio de Janeiro, comanda o esquadrão que atua no combate a focos de incêndio no Pantanal. As queimadas na região duram mais de dois meses. De acordo com o Instituto Brasileiro de Meio Ambiente (Ibama) Prevfogo, a área destruída representa 26% do bioma.
Na aeronave da FAB, um sistema lança água sob pressão nos locais atingidos pelo fogo. A capacidade de lançamento é de até 12 mil litros de água a cada abastecimento.
Capitão Italo Holanda De Oliveira, integrante do Esquadrão Gordo, da FAB — Foto: Wilhan Campos/FAB
Marcadas na memória, o capitão Ítalo traz as lembranças de uma ação recente de combate ao fogo no Pantanal. Além de ajudar no preservação da fauna e da flora, ele lembra de ajudar brigadistas a escaparem do incêndio.
“Um grupo de brigadistas, que estava atuando em solo, ficou cercado pelo fogo enquanto realizava o trabalho no local. Nós fomos acionados para auxiliá-los”, lembra Ítalo.
O avião em que estava, o C-130, executou o lançamento de água, o que possibilitou que o helicóptero de resgate se aproximasse dos brigadistas, que conseguiram sair ilesos da mata. “Foi muito satisfatório”, diz.
“De alguma forma, nós estamos ajudando a garantir um bem comum, que é a preservação do meio ambiente, das nossas riquezas naturais e que futuras gerações tenham a oportunidade de usufruir da nossa biodiversidade.”
Transporte de EPIs durante a pandemia
Avião da FAB transporta 13 mil testes rápidos para diagnosticar Covid-19 — Foto: FAB/Divulgação
A Operação Covid-19, coordenada pelo Ministério da Defesa, mobiliza militares por todo o Brasil. Homens e mulheres das Forças Armadas atuam no enfrentamento à pandemia do novo coronavírus, em apoio à população.
As ações envolvem descontaminação de espaços públicos, doações de sangue, transporte de medicamentos e equipamentos de saúde. Na execução dessas atividades, a tenente aviadora Mariana de Bustamante Fontes, de 24 anos, serve no Esquadrão Harpia e opera o helicóptero H-60L Black Hawk.
“Tenho orgulho de levar apoio para onde muitas vezes ninguém mais chega. Dedico minha vida a cumprir as mais nobres missões nas comunidades mais remotas do território brasileiro”, diz.
Tenente Mariana de Bustamante Fontes, de 24 anos, opera helicóptero da FAB — Foto: Wilhan Campos/FAB
Nesses locais, principalmente da Amazônia, o trabalho da militar é essencial, em apoio a populações isoladas. As aldeias atendidas por aeronaves da corporação são consideradas de difícil acesso por terra, e somente embarcações e helicópteros conseguem chegar.
“No caso das comunidades indígenas, as nossas tripulações têm um cuidado mais acentuado. Portanto, a interação é apenas com os chefes dessas comunidades”, explica a tenente.
“Sempre fomos muito bem recebidos e temos a certeza de que os equipamentos transportados para locais inóspitos demonstram o comprometimento de todos os aviadores em integrar cada vez mais o nosso país.”
Durante a pandemia, além de levar ajuda, os militares também precisam reforçar os cuidados com a própria saúde e, assim, evitar a disseminação do vírus entre colegas e os atendidos. Segundo a FAB, nas missões que envolvem proximidade com comunidades indígenas, os tripulantes são testados antes de cada decolagem, além de cumprirem as medidas sanitárias e uso de Equipamento de Proteção Individual (EPIs) durante os transportes.
Adaptações: Alexandre Torres
Guará News