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Na cena do crime: conheça o trabalho das peritas em casos de feminicídio no DF

Por Carolina Cruz, G1 DF

Adaptações: Alexandre Torres

Guará News


Beatriz Figueiredo, perita da Polícia Civil do DF — Foto: Carolina Cruz/G1Beatriz Figueiredo, perita da Polícia Civil do DF — Foto: Carolina Cruz/G1

Beatriz Figueiredo, perita da Polícia Civil do DF — Foto: Carolina Cruz/G1

Em 2019, ano em que o Distrito Federal registrou recorde de feminicídios, a área da Polícia Civil (PCDF) responsável pela perícia de assassinatos passou a ser comandada por uma mulher. Beatriz Figueiredo, de 35 anos, é a primeira chefia feminina da área desde a Lei do feminicídio e conta ao G1 como o trabalho envolve as policiais.

“A polícia me fez realmente uma feminista, ser alguém que entenda a luta pelos interesse das minorias.”

Desde o dia 7 de março, o G1 publica uma série de reportagens em homenagem às mulheres. O objetivo é mostrar, além de exemplos, obstáculos ainda enfrentados por elas no dia a dia. Veja as reportagens publicadas abaixo:

‘Postura diferente’

Beatriz comanda há um ano e dois meses a Seção de Crimes Contra a Pessoa (SCPe) do Instituto de Criminalística (IC) do Distrito Federal – ela é a 4ª mulher no posto desde a criação da SCPe.

Beatriz Figueiredo, perita da Polícia Civil do DF — Foto: Carolina Cruz/G1Beatriz Figueiredo, perita da Polícia Civil do DF — Foto: Carolina Cruz/G1

Beatriz Figueiredo, perita da Polícia Civil do DF — Foto: Carolina Cruz/G1

Atualmente, o grupo reúne 34 peritos. Destes, 10 são mulheres.

A SCPe é responsável pela análise das cenas de todos os crimes contra a vida: homicídios, latrocínios e feminicídios.

Desde 2017, os assassinatos de mulheres na capital são investigados, inicialmente, como feminicídios. Durante o trabalho policial, a tipificação pode ser alterada, conforme o caso for sendo solucionado. Devido ao novo método, os registros do crime cresceram 550% (saiba mais abaixo).

A perita Beatriz Figueiredo explica que, devido ao protocolo, todos os profissionais seguem um mesmo Procedimento Operacional Padrão (POP) para a análise desses casos.

“Já vamos ao local do crime com uma postura diferente, como procurar sinais de violência doméstica no corpo da mulher, saber se houve violência em algum animal de estimação, se tem foto rasgada, ou algum outro indício de violência que ela tenha sofrido antes.”

Prédio do Instituto de Criminalística da Polícia Civil do DF  — Foto: Carolina Cruz/G1Prédio do Instituto de Criminalística da Polícia Civil do DF  — Foto: Carolina Cruz/G1

Prédio do Instituto de Criminalística da Polícia Civil do DF — Foto: Carolina Cruz/G1

Beatriz destaca que toda a equipe é preparada, “independentemente de gênero”. No entanto, reconhece que as mulheres, por vezes, enxergam nas circunstâncias um “lugar comum” às vítimas.

“A mulher pode perceber algumas coisas em uma cena, não por ser mais profissional, mas por já ter passado por situações parecidas, ou conhecer alguém que sofreu violência.”

‘A polícia me fez feminista’

Na Polícia Civil há sete anos, Beatriz afirma que o objetivo sempre foi trabalhar na perícia de crimes contra a vida. Mas admite que não sabia o quanto “lidar diretamente com a morte mexe com as pessoas”.

”Ver pessoas menos assistidas, sem estrutura, relativiza o que entendemos como sociedade. São mulheres da minha idade, ou mais novas, que são mortas e que não tiveram oportunidades.”

Na cena dos crimes, ela conta que “a recomendação é se manter distante dos familiares”. O objetivo é focar nos indícios científicos da cena, como disposição do corpo e elementos que antecederam o assassinato.

Beatriz Figueiredo, perita da Polícia Civil do DF — Foto: Carolina Cruz/G1Beatriz Figueiredo, perita da Polícia Civil do DF — Foto: Carolina Cruz/G1

Beatriz Figueiredo, perita da Polícia Civil do DF — Foto: Carolina Cruz/G1

“Não podemos nos envolver demais nas histórias, pra gente não ficar condicionado a buscar um caminho. Precisamos ser imparciais. Claro que tem coisas que não precisam ser ditas. Se a família está abalada, você ouve e vê”, diz.

O que se vê, segundo Beatriz, é que as vítimas costumam ser mortas por pessoas próximas. “Geralmente, essa mulher está morta em casa ou no ambiente de trabalho. Claro que há casos de mulheres encontradas na rua. Mas, na maioria das vezes, é no ambiente onde ela deveria se sentir protegida, que é a casa dela, onde acaba morta pelo marido ou namorado”, aponta.

Feminicídios no DF

A lei do feminicídio foi sancionada em 2015, definindo o crime como aqueles motivados por “razões da condição de sexo feminino”. Segundo a norma, são incluídos nessa classificação os casos em que há:

  • Violência doméstica e familiar
  • Menosprezo ou discriminação à condição de mulher

No ano da sanção, houve 6 registros de feminicídio no DF. Já em 2019, o número subiu para 33 casos.

  • 2015: 6 casos
  • 2016: 21 casos
  • 2017: 17 casos
  • 2018: 28 casos
  • 2019: 33 casos

FEMINICÍDIOS NO DF EM 2019