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Fila de atendimento oncológico no DF é deprimente. Mais de 10.000 pessoas esperam atendimento e cirurgias

Fila de atendimento oncológico no DF é deprimente. Mais de 10.000 pessoas esperam atendimento e cirurgias

Guará DF, 05 de novembro de 2023

Para o Guará News

Alexandre Torres

 

 

Até outubro, mês dedicado ao combate a este tipo de tumor, 138 pacientes em “risco vermelho” têm amargado a espera por uma cirurgia

Pacientes do Distrito Federal que lutam contra o câncer de mama aguardam, desde janeiro, o agendamento para cirurgia que pode lhes salvar a vida. Até outubro, mês especialmente dedicado ao combate a este tipo de tumor, 138 pessoas classificadas como “risco vermelho” têm amargado a espera para finalmente realizar o procedimento.

Na fila da corrida contra o tempo, a recepcionista Paloma de Araújo, 36 anos, é paciente registrada como sendo de risco vermelho. Ela e aguarda pela cirurgia desde maio. É o segundo procedimento que ela fará para retirar o câncer de mama.

“A primeira não removeu tudo e o tumor voltou”, diz. A demora tem sido tão grande que ela começou a procurar tratamento na rede particular para poder remover o tumor. “Espero conseguir fazer em dezembro”.

Paloma descobriu o câncer em 2022 após seis meses da morte do pai. “Fiquei desnorteada! E muito abalada com essa notícia! É difícil até mesmo para contar para os meus familiares e para minha mãe”.

Com o câncer em estágio avançado, Paloma faz vaquinhas para conseguir recursos a fim de pagar pelo procedimento, já que não tem conseguido por meio do Sistema Único de Saúde (SUS).

Antes de entrar na fila para a cirurgia, Paloma passou por quimioterapia. “Na terceira, eu passei muito mal. Tive começo de parada cardiorrespiratória, e tive de parar por alguns dias”, contou. Ela terminou todas as sessões em 8 de dezembro de 2022. Foi quando começou a saga pela cirurgia. Em maio deste ano, a recepcionista foi submetida ao primeiro procedimento, mas, como o tumor não foi totalmente removido, ela precisou ser reinserida na fila.

Pacientes há 2 anos na fila

O tempo de espera por uma cirurgia de mastologia na rede pública do Distrito Federal pode levar até 2 anos. A paciente mais antiga que aguarda o procedimento está na fila do SUS desde setembro de 2021. Ela é considerada uma paciente de classificação azul, com a menor prioridade. A demora, no entanto, não é apenas para os casos que a Secretaria de Saúde interpreta como os mais “leves”.

Uma fonte da Secretaria de Saúde confirmou que todos os casos de tumores que precisam de remoção vão essa fila de cirurgia de mastologia. Em geral, o risco amarelo é aquele em que foi identificado o tumor, mas não há certeza se é benigno ou maligno. Já nos casos verde e azul, foi identificado o tumor benigno e é classificado pela prioridade pelo tamanho e condição de saúde.

ReproduçãoFoto com as informações de pacientes mais antigos
Informação obtida via LAI

Ao todo, a rede pública tem uma fila de 501 pacientes esperando pela cirurgia de mastologia. Desses, 230 estão classificados com o risco amarelo; 84 com risco verde e 49, azul. Veja abaixo o que é classificado para cada cor. Os dados foram obtidos via Lei de Acesso à Informação (LAI).

De acordo com a Secretaria de Saúde do DF, de janeiro a julho deste ano, 430 novos casos de câncer de mama foram registrados no DF pela pasta. Nesse mesmo período, foram feitas 131 mastectomias pela rede pública. Também foram feitas 1.441 mamografias, 2.572 quimioterapias e 149 radioterapias pela SES.

Para o diretor do Comitê Científico de Federação Brasileira de Instituições Filantrópicas de Apoio à Saúde da Mama, o oncologista Ricardo Caponeiro, a demora é preocupante.

“O tratamento do câncer é uma corrida contra o tempo. Cada milímetro que o tumor cresce, menores são as chances de cura, e quando o tumor se espalha para os linfonodos da axila, as chances de cura caem drasticamente. Com o surgimento de metástases, as chances de cura são mínimas”, alertou o especialista.

De acordo com ele, a demora para remover os tumores supostamente benignos causa desconforto. “Os tumores benignos não dão metástases, por definição, mas aumentam de tamanho e produzem sintomas”, explica. Para o médico, o problema é como ter certeza de que são de fato absolutamente benignos.

“Se você faz uma fila única, as doenças benignas ocupam lugar na fila e atrasam ainda mais o tratamento das pacientes com neoplasias malignas. Se você dá prioridade para as neoplasias malignas, a fila da cirurgia das benignas não anda”, detalhou.

O espaço segue aberto para possíveis manifestações.