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Em época de pandemia situações inusitadas aparecem no ensino do DF, conselheiros tutelares revelam casos surpreendentes

Por Carolina Cruz, G1 DF

Adaptações: Alexandre Torres

Guará News

Uma pilha de pastas se acumula em um dos armários do Conselho Tutelar III de Ceilândia, no Distrito Federal. Cada uma delas é o relatório de uma criança ou adolescente, estudante da rede pública, que deixou de ir para a escola este ano. As ausências, que ainda não foram registradas em levantamentos da Secretaria de Educação, já são notadas por profissionais  que acompanham as famílias de perto.

“As notificações escolares de evasão ou faltas escolares são mandadas [para o Conselho] quase que semanalmente”, explica a conselheira tutelar de Ceilândia Jaciara Sena. Ela conta que seu papel é tentar contato com a família e entender o porquê do afastamento do aluno.

As respostas que Jaciara encontra, muitas vezes, são reflexo dos impactos da pandemia de Covid-19.

“Desde que começou a pandemia, começamos a receber uma demanda maior das escolas, de evasão, de não cumprimento das tarefas escolares. São famílias que estão em vulnerabilidade social, que não têm internet em casa, muitas perderam o emprego”, explica a conselheira.

Jovem folheia livro de ensino médio — Foto: Edson Fogaça/Unesco

Jovem folheia livro de ensino médio — Foto: Edson Fogaça/Unesco

De março de 2020 a junho de 2021, as escolas públicas funcionaram exclusivamente com ensino remoto. Desde julho, foi iniciado o modelo híbrido – intercalando semanas com atividades presenciais e online.

Quem não tem equipamento eletrônico ou internet precisa buscar materiais impressos no colégio. “Muitos pais não têm condição de buscar esse material na escola”, destaca Jaciara.

“Um grande fator [para evasão] foi o desemprego. A internet seria o menor dos problemas, as pessoas queriam arroz e feijão para colocar dentro de casa e poder alimentar os filhos”, diz a conselheira tutelar.

 

Evasão escolar em números

 

De acordo com a Secretaria de Educação do DF, a evasão só pode ser analisada em dados por meio do Censo Escolar, levantamento que ocorre a cada ano. A mais recente coleta de dados sobre o afastamento de alunos da escola é referente ao ano de 2019, antes da pandemia.

Este último levantamento mostrava que 3.577 alunos abandonaram as escolas no ensino fundamental (1,31% do total), 4.926, no ensino médio (6,1%) e 6.386 na Educação de Jovens e Adultos (EJA) (32,88%).

Conforme a previsão de divulgação dos dados oficiais, a evasão durante a pandemia só será avaliada em estatísticas nas próximas pesquisas, a serem divulgadas entre o fim deste ano e o início de 2022.