OAB-DF repudia comentário de professor: “Racismo não é mal-entendido”
Em nota, comissão da Ordem cobra apuração do caso em que o docente da rede pública faz “piada” com o penteado de uma mulher negra
ATUALIZADO 21/08/2020 9:28
“É necessário ressaltar que traços de aparência não devem servir de subterfúgios para piadas, especialmente contra mulheres negras, tão preteridas historicamente pelos padrões de beleza impostos, reduzindo e tachando o cabelo crespo como ‘ruim’”, diz um dos trechos do comunicado da OAB-DF.
De acordo com a nota, o comentário do professor trouxe constrangimento para grande parcela das mulheres negras, “já que os padrões as obrigavam a mudar sua beleza natural para serem socialmente aceitas. Por isso, o ataque à mulher negra que assume seu cabelo e sua ancestralidade deve ser veementemente combatido”.
“Realça-se que com a ‘piada’ do professor, figura que aparenta autoridade, outros usuários passaram a fazer comentários de cunho racista, inclusive, com alusão ao holocausto e a grupos nazistas, o que demonstra que a dita piada desencadeou o ataque à comunidade negra”, observa a nota assinada pela presidência da comissão da OAB-DF.
O comunicado também chama atenção para outra publicação do professor em relação à homossexualidade. “Não bastasse isso, em outras publicações, o servidor ataca a comunidade LGBTQ+, o que demonstra que seu comportamento em redes sociais é inegavelmente antissocial e incondizente com a profissão que exerce. Ser professor é uma dádiva, mas que impõe ao profissional comportamento social lídimo e sem máculas, a fim de fomentar inspiração em seus alunos”.
“Racismo não é mal-entendido, é crime! Portanto, repudiamos os fatos ocorridos e lembramos que muito embora seja garantida a liberdade de expressão, esta não deve jamais ultrapassar os limites da dignidade da pessoa, ou mesmo do coletivo, como foi o caso. Especialmente, tratando-se de pessoa que exerce tão relevante e essencial profissão, a docência”, continua.
Por fim, a Comissão de Igualdade Racial afirma que vai requisitar às autoridades responsáveis a apuração da postura do servidor público em sala de aula e nas redes sociais (confira a íntegra do documento clicando aqui).
Sobre o caso
Comentários com teor preconceituoso de um professor do Centro de Ensino Médio 804, no Recanto da Emas, mobilizaram estudantes e ex-alunos da instituição na noite dessa quarta-feira (19/8). A publicação considerada racista ocorreu no perfil pessoal do professor de espanhol Murilo Vargas no Facebook.
Diante da repercussão, a escola onde o docente trabalha se pronunciou em nota, repudiando os comentários.
“Essas declarações não refletem o pensamento da escola, que sempre prezou pela diversidade e pluralidade de ideias e procurou sempre se pautar pelos princípios da liberdade, como escola formadora do pensamento crítico-reflexivo, independente de partidarismo político, ideologia, raça ou credo”, diz trecho da nota divulgada.
Poucas horas após a postagem, um abaixo-assinado cobrando o afastamento do professor foi criado por iniciativa de estudantes e já contava com mais de mil assinaturas. O Metrópoles apurou que mais alunos se uniram e estão colhendo outras provas para que o caso seja levado até a Polícia Civil do DF.
Até a última atualização desta matéria, o professor Murilo Vargas não tinha retornado os contatos da reportagem. O espaço segue aberto a manifestações.
Adaptações: Alexandre Torres
Guará News